As prisões são produtoras de violência. Quanto mais prisões construirmos, mais violenta se tornará a sociedade. Entrevista especial com Camila Dias
[Autor Prueba]
IHU
“O cenário nacional, com raríssimas exceções, é de caos”, aponta a pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP.
As portas do presídio Pedrinhas, no Maranhão, foram abertas e um rastro de sangue se espalhou pelo Brasil. As chaves que tornaram públicas a situação no cárcere foram trazidas pela imprensa, após o ataque a um ônibus, em São Luís, a mando de facções criminosas, que de forma trágica vitimou fatalmente uma menina de seis anos e deixou outros quatro feridos. Do lado de dentro das celas, detentos decapitam detentos, e as cenas foram divulgadas na Internet. A violência nos presídios e fora deles são elos de uma mesma sociedade, em que o caso maranhense não é exceção.“O cenário nacional, com raríssimas exceções, é de caos. Superlotação, condições aviltantes, falta de assistência médica, social, jurídica. Inexistência de quaisquer atividades de trabalho ou educação. Corrupção, tortura e todas as formas de violência física e psicológica”, aponta Camila Dias, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.
Ao mesmo tempo, enquanto a pesquisadora define a situação como efeito da ineficiência e omissão do Estado para controlar a população carcerária, o governo maranhense abre edital de R$ 1,4 milhão para compra de uísque escocês, champanhe e caviar para coquetéis e eventos oficiais do governo estadual. O anúncio do pregão foi feito um dia após o governo suspender outra licitação de R$ 1 milhão para compra de alimentos, entre lagosta, camarão e sorvete, para duas residências oficiais. “A situação carcerária revela a profunda desigualdade social, política e econômica que atravessa nossa história e caracteriza nossa sociedade. A prisão explicita de forma cabal tais desigualdades, primeiro, pelo perfil de sua clientela: jovens, negros, pobres”, analisa.